sexta-feira, 18 de junho de 2010

Censura Musical durante a Ditadura Militar

 Por Luciana Maryllac

Caetano Veloso, nordestino da Bahia, foi um dos artistas exilados na época da ditadura. Era um momento tenso na história do país, mas o músico e compositor lutou por sua liberdade de expressão e transformou-se um ícone da música popular brasileira


        No início da Ditadura, década de 60, o povo respiravam música brasileira, teatro brasileiro, literatura brasileira e cinema brasileiro. O cenário intelectual e artístico - especialmente na música - rumava para uma fase de grande criatividade e qualidade, uma fase que teve como símbolo os festivais de música. Mas o Regime endurecia e forçava aqueles que participavam de produções culturais a tomar posições, assim aconteceu também com a música. Caetano Veloso e Gilberto Gil encabeçavam o Tropicalismo que, segundo o próprio Caetano, o movimento fazia uma exploração estética também do que é feio, enquanto Chico Buarque preferiu ficar com o que é bonito. Num  país que ainda não havia entrado de vez na era da televisão, a música mostrava-se catalisadora do pensamento nacional. Todos sintonizavam seus aparelhos de rádio para ouvir as transmissões de shows, entrevistas, notícias... A relação entre música e história atinge sua maior intensidade nos anos 70, onde a turbulência política é marcante no mundo todo, em particular no Brasil. Muitos músicos foram perseguidos e exilados.
         Chico Buarque conseguiu como poucos fazer oposição ao Regime de forma inteligente, com letras que permitiam várias interpretações e enganavam os censores da época. Mesmo assim, é um dos artistas que mais sofreu com a censura; teve que assinar muitas vezes sob o pseudônimo Julinho de Adelaide. Suas músicas brotaram do meio da rua e do meio do 
povo. 
          Em 1970, compôs a mais famosa de suas obras "Apesar de você", uma crítica ao governo. Depois de vendidas 100 mil cópias, a música foi censurada, todos os discos retirados das lojas e até a gravadora foi fechada. Era considerada um tipo de hino contra a ditadura. Todo o público tinha certeza que "você", na letra da música, era uma referência ao presidente militar do país. Caetano Veloso foi expulso do próprio país. Exilado em Londres, recebeu em janeiro de 1971 uma permissão para passar um mês no Brasil. No Rio, é praticamente seqüestrado pelos militares, e durante um interrogatório, lhe pedem que componha uma canção elogiando   a rodovia Transamazônica, em construção projeto que nunca seria concluído. Evidentemente, Caetano não atenderia a este pedido do governo mais ditatorial do regime militar. Entretanto, coincidência  ou  não, seu segundo LP lançado em  “inglês” foi denomina-o Transa. Uma ironia, talvez, com a Transamazônica? Ao mesmo tempo, Roberto Carlos fazia sucesso com a música “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, homenagem a Caetano Veloso no exílio. Foi um período de guerra, quem quisesse sobreviver precisava 'calar' seus pensamentos e ideais. Viver numa sociedade marcada pela repressão.
 

Um mundo de histórias nos barbantes

Por Cláudia Alves

Exposta em cordas, a literatura representativa do nordeste chegou ao Brasil junto com a colonização portu

O cordel é um tipo de poesia popular, tipicamente oral. Marcada pela tradição contada e depois impressa em folhetos rústicos - ou outra qualidade de papel, eram expostos para venda pendurados em cordas ou cordéis - o que deu origem ao nome que vem lá de Portugal, que tinha a tradição de pendurar folhetos em barbantes.
No Nordeste do Brasil, herdamos o nome (embora o povo chame esta manifestação de folheto), mas a tradição do barbante não perpetuou. Ou seja, o folheto brasileiro poderia ou não estar exposto em barbantes. São escritos em forma rimada e alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, o mesmo estilo de gravura usado nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. 
Oficialmente, o cordel surgiu no Brasil em mil oitocentos e oitenta e nove, com o paraibano Leandro Gomes de Barros, conhecido popularmente como Mestre Pombal. Essa primeira publicação foi intitulada: “A Peleja do Riachão com o Diabo”.
Neste ano, o cordel completa cento e onze anos da sua primeira impressão no Brasil. Esses folhetos de aspecto simples eram a forma de informação mais vigente no sertão nordestino do final do século XIX, até meados do século XX. Acompanhou o surgimento e a evolução dos meios de comunicação e, até hoje atuam com grande força na sociedade.
O conteúdo do cordel varia nas mãos habilidosas dos poetas, desde fatos jornalísticos a histórias fantásticas. Sua linguagem típica o caracteriza.
Embora caracterizado pela forte presença da oralidade em seu texto e forma, o cordel é necessariamente impresso, distinguindo-se de outras formas de poesia oral, como pelejas e desafios cantados pelos contadores repentistas. Apresentado no formato de folheto de 16.5x12cm, variando entre 24, 32 ou 64 páginas
Ao longo dos anos esssa literatura foi se modificando ganhando novos formas que varia de livros até folhetos virtuais na internet; é o que nos conta Gustavo Dourado cordelista e Membro da Academia Virtual Brasileira de Letras: “Ele é usado mais em forma de folheto, pelo menos é a forma mais tradicional usada no nordeste até os anos 70.  A partir  dai ele ganhou outras formas em F7, então  hoje  ele é muito usado em livros. Mas em São Paulo e no interior do Nordeste como na  Paraiba, principalmente Pernambuco, Bahia, Piauí, Ceara  e Rio Grande do Norte ele é usado na forma tradicional.  Agora com a internet temos os folhetos virtuais. Ele também está integrado ao livro nas formas modernas de editoração eletrônica, ou seja, pelo livro virtual o ‘E-Book’. Mas é importante manter o cordel em folheto pois é uma caracteristica econômica e também de viabilidade de divulgação nas rodoviárias, estações de trens, ruas e praças. O movimento forte é na internet que é mais econômica  e barata para se divulgar nas formas de e-mail ou pelas redes sociais’’.
Ainda segundo Gustavo Dourado o cordel é fundamental na cultura brasileira por que é uma das nossas vertentes culturais mais populares, está bem enraizada desde o periodo da colonização do Brasil pelos portugueses que trouxeram a  literatura de cordel para cá.  Tendo sua desseminação a partir do seculo XVIII e entrou através do porto maritimo de Salvador na Bahia e se espalhou com os bandeirantes  e com os desvabradores . Atingiu o sertão por meio do Rio São Francisco que foi fundamental nesse processo. Coicidindo com o ciclo do gado, os bandeirantes e os garimpeiros.
A literatura de cordel, com freqüência, é tratada como de menor importância no contexto cultural.  O cordel foi o meio de comunicação mais presente nas populações iletradas. É o que nos conta Bosco Maciel, folclorista e cordelista: ”No início do século passado era através da literatura de cordel que a comunicação de massa existia. Como não existia o rádio nem a televisão, as informações, os conhecimentos, a diversão tudo era feito pela literatura de cordel."
De acordo com Maciel, a literatura de cordel não corre o risco de  acabar por causa da oralidade, porque a cultura é passada de pai para filho, porém o que existe é um processo de transformação. Por exemplo: quando o cordel chegou vindo da Europa os personagens eram eupopeus e árabes; com o passsar do tempo, foi sendo substituido por personagens da propria região nordeste como Lampião, Padre Cicero, Frei Damião. 





A literatura de cordel veio da Europa, mais precisamente da Península Ibérica (formada por Portugal e Espanha). Vieram para o Brasil tipos de poesia e de prosa. Porém temos conhecimento de outros paises europeus como Alemanha e Holanda que tinham uma produção literária parecida com o cordel. É curioso ainda ressaltar que formas semelhantes ao cordel brasileiro podem ser encontradas na América como, por exemplo, o "corrido" no México, na Argentina, Nicarágua e no Peru e o "contrapuento", semelhante à peleja ou desafio, também encontrado no México. Na Argentina são encontradas "hojas ou pliegos sueltos", que lembram os cordéis, e o "payador", que equivale ao nosso cantador.
A Literatura de Cordel como manifestação da cultura popular tradicional, pode ser chamada de folheto ou romance. Nasceu no nordeste e se espalhou pelo país, pelo processo migratório do sertanejo nordestino.

Mirela Custódio Talora - Especialista em Teledramaturgia


RegiãoCult foi até Campinas entrevistar a especialista em teledramaturgia:  Mirela Custódio Talora. Possui bacharelado em Artes Cênicas - Interpretação Teatral pela Universidade Estadual de Londrina (2003) e licenciatura em Artes pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2009). Atriz/pesquisadora do Grupo de Pesquisa Teatral TAO, Campinas - SP. Professora de Teatro do Colégio PIO XII (PUC), Campinas - SP.

Por Débora Sales

RegiãoCult: Na sua opinião Jorge Amado fez de suas biografias um pouco de sua vida?
Mirela Talora: A realidade de suas biografia é algo meio complexo, uma vez que mistura realidade com fantasia, mas pelo que foi publicado comparado com sua vida é basicamente sua experiência na cidade de Ilhéus.

RC: Gabriela nos dias atuais pode se comparar com algum personagem vivenciado na TV?
MT: A obra em si era muito rica de fantasia com realismo, nas telenovelas atuais não se vem mais personagens como os da novela Gabriela Cravo e Canela.


RC: O nordeste foi mostrado de uma forma diferente?
MT: Na verdade pode se dizer que não, pois havia muito jagunços, prostitutas naquela época, mas sempre a TV fantasia um pouco a realidade.

Bosco Maciel - Cantor e Compositor


RegiãoCult entrevistou o cantor e compositor Bosco Maciel que fala um pouco mais de sua vida e trajetória.

Por Amilton Santos

Região Cultural - Quem é o homem  Bosco Maciel?
Bosco Maciel - Um homem simples vindo do nordeste que quer manter a cultura nordestina viva.

RC - Porque veio para São Paulo?
BM - Por falta de trabalho no nordeste,  em busca de melhoria de vida na tão cobiçada cidade grande.

RC - Você sofreu preconceitos  quando chegou aqui?
BM - Sempre fui muito simples e procurei me identificar com está cidade maravilhosa não sofri preconceitos pelo contrário, acho que fui bem recebido pelos paulistas.

RC - Teve medo de algo?
BM - No começo quando cheguei aqui, minha situação não erá uma das melhores.

RC - Qual foi sua maior fonte inspiradora?
BM - A minha família que sempre admirei muito, principalmente meu pai José Cardoso da Silva e minha mãe Santa Maciel.


Pensou em desistir em algum momento?
Nunca, sempre fui muito determinado.
  
Se considera realizado?
Em alguns aspectos posso me considerar realizado. Saí de uma cidade pequena no Sertão da Paraiba e vim morar aqui por um tempo e já se passaram mais de quarenta anos, continuo mantento a minha tradição algo que tenho bastante orgulho, mas ainda assim sinto que á muita coisa pela frente.

Existe algo que gostaria de conquistar ou realizar?
Meu maior sonho é ver o instituto casa dos cordeis ser referência cultural.

Sente falta de apoio dos meios de comunicação em relação ao seu trabalho?
Sim, na verdade a cultura  no Brasil é pouco divulgada mas conto com o apoio de alguns amigos e patrocinadores.


Quem foi seu maior Ídolo?
Tenho muita admiração pelos cantores da música nordestina porque contribuem em manter e conservar nossas raizes, mas não posso me esquecer de Luiz Gonzaga um dos ícones da música nordestina.

Nas horas vagas oque gosta de fazer?
Gosto de compor poemas e me arrisco a compor músicas.

Se fosse politico oque faria para mudar a história deste país?
Não tenho vocação para politica mas, se fosse político tentaria ser o mais justo possivel e acabar com a desigualde social que existe no Brasil, principalmente no nordeste.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Nasceu, cresceu e foi sempre assim: Jorge Amado



Por Débora Sales

Quem é Gabriela ?  Jorge Amado lançou Gabriela, Cravo e Canela em 1958, livro que se transformou num sucesso absoluto, inclusive internacionalmente. Crônica de costumes provincianos da sociedade cacaueira, o romance esgotou as seis primeiras edições no primeiro ano de publicação, ganhou versões em 33 idiomas (é a obra do autor com maior número de traduções) e virou novela e filme.

Romance urbano, passado quase todo na rica Ilhéus da década de 1920, apresenta coronéis e jagunços, prostitutas e malandros, imigrantes e sinhazinhas envolvidos em manobras políticas e tramas de amor e crime. Recheado de humor e com uma movimentação de caráter quase burlesco, o livro marca a virada nos procedimentos artísticos e políticos de Amado, que depois escreveria Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966) e Tieta do Agreste (1977). Nessa fase se encontram ainda as novelas Velhos Marinheiros (1961) e Tenda dos Milagres (1970), esta última adaptada ao cinema por Nelson Pereira dos Santos.   

Em Gabriela, o cacau não gera mais sangue, mas riqueza, e seu perfume maduro mescla-se ao aroma das flores da estação e do tabuleiro da sensual protagonista, conforme a descrição do autor no início do terceiro capítulo. Trata-se de uma crônica da modernização dos costumes, para cuja guinada ajuda a contribuir Gabriela, ou melhor, seu comportamento libertário e a reação do árabe Nacib, apaixonado por ela. A narrativa segue assim, do geral ao particular e do particular ao geral, residindo nesse movimento, em que se entrelaça o ir-e-vir de dezenas de personagens representativos. De tremendo apelo e grande repercussão, contribuiu para formar, junto com outras ficções do autor, a imagem “exótica” do Brasil no exterior, só mais recentemente nuançada.

Um dos mais queridos escritores brasileiros de todos os tempos, morto em 6 de agosto de 2001, quatro dias antes de completar 89 anos, Jorge Amado de Faria nasceu em 1912, numa fazenda do município de Itabuna, Bahia. Quando tinha dez meses, seu pai, um comerciante sergipano que chegou a ser proprietário de terras no sul da Bahia, foi ferido numa tocaia em sua própria
fazenda. No ano seguinte, mudou-se com a família para Ilhéus, fugindo de uma epidemia de varíola.

Alfabetizado pela mãe e depois fazendo o curso secundário com jesuítas em Salvador e no Rio, Jorge Amado sempre teve desenvoltura na escrita. Com apenas 14 anos conseguiu emprego como repórter policial. Em 1931, mesmo ano em que entrou para a Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, publicou seu primeiro romance, O País do Carnaval. A partir de 1932, por influência de Rachel de Queiroz, aproximou-se do Partido Comunista. Por sua oposição ao Estado Novo de Getúlio Vargas, foi preso em 1942.
O escritor foi o quinto ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, hoje de posse de sua viúva, Zélia Gattai. Recebeu inúmeros prêmios e denominações honoríficas, nacionais e internacionais, inclusive a de doutor honoris causa, mas a de que mais se orgulhava era a de obá orolu, um dos mais altos títulos do candomblé.

A história de sucesso de Bosco Maciel

Por Amilton Santos

Numa cidade no sertão da chamada Cajazeiras nascia, em março de 1950, um homem chamado João Bosco da Silva. Quando criança já se interessava pelas artes, gostava de pinturas e participava de concursos patrocinados pela simples e pequena cidade de Cajazeiras, que fica no Estado da Paraíba. Sempre quando surgia oportunidades lá estava cantando e tocando com bandas local que, o incentivava a continuar a trilhar o caminho da musica e da arte. Seu nome artístico – que faz questão de ser chamado – é Bosco Maciel.

Aos vinte anos de idade saiu do nordeste rumo a cidade grande, sua vinda a capital paulista na época era a realidade da maioria dos nordestinos que deixavam o Nordeste castigados pela seca e falta de oportunidades no sertão.

Ele acreditava que construiria sua vida profissional em São Paulo e que em poucos anos de trabalho, consegueria juntar algum dinheiro estaria estabilizado, podendo então, retornar para sua terra natal. Mas o destino lhe atribuia outra história contrariando seus pensamentos e objetivos. O retorno não aconteceu devido as dificuldades que enfrentou quando teve seus primeiros anos de vivência na “terra das oportunidades”.

Em más condiçoes, morando na rua sem trabalho e consequentemente sem dinheiro Bosco Maciel viu seu sonho ficando cada vez mais distante, pois já não conseguia voltar para o Nordeste e não aceitava retornar a sua cidade sem alcançar o sucesso profissional que tanto buscava longe de casa.

Em 1974, por conta de sua situação financeira se mudou do centro da cidade de São Paulo e foi morar em Guarulhos, lugar em que reside até hoje e realiza o seu trabalho em favor da cultura do nordeste.

Como exemplo de superação em meio a tantas adversidades, terminou o Ensino Médio e pôde também, em 1977, concluir a Graduação de seu curso univesitário formando-se em Administração de Empresas. Hoje Bosco atua como produtor cultural que é o que mais gosta de fazer, segundo o mesmo, isto nada mais é do que divulgar sua cultura interiorana pelas cidades do Brasil a fora focando principalmente na literatura do cordel, seu maior orgulho.

Falando nisso, Bosco Maciel, aos 60 anos, criou o Instituto Cultural Casa dos Cordéis, um espaço que está aberto ao público diariamente e promove a cultura nordestina, com o objetivo de não deixar morrer a cultura e tradição do nordeste. A idéia de criar o instituto surgiu quando Bosco resolveu reunir e utilizar bonecos, folhetos, dentre outros objetos que estavam guardados em uma garagem alugada.

Desde então o projeto deu certo e tem levado gratuitamente a cultura popular oferecendo a comunidade de Guarulhos vários eventos como shows de música nordestina, almoço com comidas típicas do nordeste e peças teatrais contando as histórias de personagens que marcaram história no passado. Ao longo destes anos em São Paulo, Bosco tem se dedicado a palestras, ensinando em seus seminários a cultura nordestina tão pouco divulgada pelos meios de comunicação de massa.

Com a ajuda de poucos patrocinadores e alguns amigos, o artista escreveu um livro cujo nome romanceiros já se tornou referência para se obter informações da literatura do cordel. Este livro para ser lançado contou com o apoio do Projeto Funcultura, um programa de estímulo aos artistas da cidade. O livro conta a saga de um povo de um modo bem particular valorizando a cultura e as raízes nordestinas em uma linguagem simples. A história de Bosco Maciel é contada nesta edição pela revista RegiãoCult em foco para homenagear o homem do nordeste, sua força, sua crença e luta na cidade de São Paulo. Mostrando de uma forma bem particular, a realidade da migração, suas surpresas e histórias freqüentes.

A empregabilidade para os imigrantes nordestinos em São Paulo


Por Débora Mattos

São Paulo é o principal estado urbanizado do país, composto por 39 municípios, integrados espacial e economicamente, do ponto de vista da produção e principalmente pelo mercado de trabalho.
Conhecida com a “terra das oportunidades” seja de trabalho, moradia, estudos, convívio sociais e afins a cidade de São Paulo recebe diariamente cerca de muitos migrantes e emigrantes que se instalam para almejar os benefícios que ela pode proporcionar.
        . Os nordestinos vêem para São Paulo, na maioria das vezes, a procura de melhores condições de vida para si e para seus familiares. Normalmente sua estadia é definitiva e só retornam para visitar seus parentes e amigos.
        “De maneira geral os nordestinos migraram para São Paulo para obter melhores condições de vida. Normalmente se instalam e vão em  busca de um emprego, de constituir uma moradia, sua família e de reproduzir de forma ampla e completa”.  Comenta o professor da Universidade de São Paulo Júlio César Suzuki, especialista em geografia agrária e urbana de São Paulo.
Estudo realizado pela Pesquisa Nacional por Amostra Domicílio - PNAD 2001, por meio de entrevistas com os chefes de famílias migrantes residentes em 1993 no Estado de São Paulo, identificou-se que procura por trabalho e motivos relacionados à família constituíam-se as justificativas mais citadas para a mudança para São Paulo. Nesta pesquisa afirma que o fator predominante da migração para a cidade paulistana esta ligada a necessidade de acompanhar a família que já se deslocou para em São Paulo nos últimos anos. Já o aspecto mercado de trabalho encontrasse em segundo lugar.
“A migração nordestina é exclusivamente motivada por melhorias nas condições de vida nos centros urbanos de SP e pela fuga de condições desfavoráveis como desemprego, dificuldades na área da educação e dificuldades na área da saúde e moradia”. Contesta o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Helion Póvoa Netto, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios (NIEM).
         No mercado de trabalho, as áreas que a população nordestina se destaca são como empregadas domésticas, garis, vigias, se concentram nas indústrias, setores vinculados a trabalhos braçais como em construções civis. 
“A maioria dos nordestinos são admitidos em cargos como empregadas domesticas como garis, como vigias, nas indústrias, trabalhos vinculados como tarefas mais braçais. mais este é o parâmetro mais geral. não dá para dizer que todo nordestino viva essa situação de inclusão mais precária mais marginal em relação ao mercado de trabalho.” Afirma o professor Júlio Cesar.
Atualmente o fluxo migratório de nordestinos para SP diminuiu em comparação as décadas de 30 a 70. Segundo informações do SEADE , em 1988, as pessoas vindas do Nordeste representavam quase 60% da migração. Já em 2007, elas significaram aproximadamente 49%. Mesmo com esta queda os nordestinos ainda são o maior grupo migrante na metrópole paulista.
O professor e pesquisador José Marcos Pinto da Cunha, do NEPO, Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp, Universidade de Campinas, comenta alguns aspectos da diminuição do fluxo migratório para a região metropolitana de São Paulo. “A idéia do ‘Sul Maravilha’ formada pelos brasileiros ao longo dos anos começa a mudar porque o desenvolvimento já não tem uma paridade clara com o emprego, ou seja, mesmo que a cidade de São Paulo continue se desenvolvendo, a estrutura do desenvolvimento econômico já não concebe o modelo que oferece muitos empregos. Pelo contrário, as máquinas estão sendo adotadas em larga escala nas indústrias, nos setores da construção civil, como substituição de mão-de-obra”.
A partir da década de 80, conhecida como década perdida para a economia brasileira, o fluxo migratório começou a mudar.
“A migração para o sudeste continua acontecendo é muito forte, porem nos últimos 30 anos a migração de retorno e tão forte quanto a migração de vinda”. Comenta o professor Helion.

Festas Juninas


Por Claudia Alves

As festas juninas brasileiras podem ser divididas em dois tipos distintos: as festas da região nordeste que reúnem a comunidade e turistas tendo muita comida, quadrilha, casamento matuto e forró.

E as festas do Brasil caipira nos Estados de São Paulo, norte do Paraná, Minas Gerais e Goias é o que nos diz a professora Luiza Lusvarghi especialista em cultura nordestina. "O grande diferencial que eu diria em relação ao nordeste das demais regiões é que no nordeste as festas juninas tem a mesma importância do natal. Então é coisa familiar você entende que vai estar toda a família reunida. Ao contrário do que acontece em São Paulo e cidades do interior. Imagina você tem até cidades cenográficas construídas para abrigar essas festividades juninas não é igual aqueles caipirogramos que a gente tem pra cá."

Um dos locais de encontro para se apreciar a festa junina em São Paulo é o Centro de Tradições Nordestinas, e a Lucelia Pereira, Coordenadora e Produtora dos Shows do CTN, comenta empolgada: "Temos todos os anos a nossa festa junina, em especial as quadrilhas, danças típicas e forró trio pé de serra. Então a preparação é para um mês de festa junina no CTN. Iniciamos no dia 11 junho e encerraos em 11 de julho."

No interior de São Paulo ainda se mantém a tradição de quermesses e danças de quadrilhas em volta da fogueira.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Entrevista com Mariana Conti (Coordenadora Cultural do CTN)


Por Luciana Maryllac 

Região Cultural foi até o Bairro do Limão, na capital São Paulo, para conhecer algumas curiosidades do CTN.  Entrevistada: Mariana Conti - Coordenadora Cultural.

Região Cultural – Mariana, conta um pouco para gente a trajetória do CTN, por que foi criado esse Centro de Tradições Nordestinas?
Mariana Conti – O CTN foi criado há 12 anos pelo José de Abreu, é um empresário paulista, ele não é nordestino. Na verdade ele criou esse espaço lendo uma matéria no jornal, e a matéria falava da ingratidão de SP para com os nordestinos. Ele já tinha a Rádio Atual, que era uma Rádio Nordestina, então teve a idéia de criar o espaço. Que era um espaço de cultura para que o nordestino pudesse vir para cá e se sentir na cidade dele, seja de qual parte do nordeste ele fosse. Ele teria a alimentação, a música... o que houvesse de mais característico no nordeste aqui ele encontraria no CTN.

RC – As estruturas atuais do CTN, todo esse patrimônio, tem desde o início? Quais são os serviços que vocês oferecem e qual a evolução do CTN?
MC – O CTN mudou bastante ao longo desses anos. No início era um trabalho bem rústico, o espaço já era o mesmo, aqui na Rua Jacofer, no bairro do Limão, mas não tinha muita coisa que, por exemplo, hoje nós temos, como a igreja, o palco, hoje o espaço é coberto, nós temos hoje 10 restaurantes aqui e mais 9 quiosques, na época que inaugurou não tinha tudo isso. Era um espaço aberto, completamente destampado, bem simples, mas que conseguia cumprir com a proposta do Sr. José. Hoje em dia já nós estamos fazendo uma reforma, estamos conseguindo trabalhar nossos projetos sociais, que são a escola de alfabetização de adultos, aula de capoeira, aula de reforço para criança, aula de teatro, além da atuação normal do CTN como casa de show, alimentação, a gente tem essa frente de atuação também.

RC – Qual é a principal festa do CTN?
MC – A principal festa não só do Centro, mas do nordeste, é o São João que é um mês de festa. Esse ano a gente inicia em 12 de junho e vai até 12 de julho. E no São João do nordeste é a mesma coisa, só que começa assim a data do primeiro santo que faz aniversário que é 12 de junho e vai até o final de julho. É festa pra mais de um mês.

RC – Quais são as atrações dessas festas?
MC – É o São João típico nordestino, um pouco diferente do paulista. Então tem as quadrilhas tradicionais, tem mamulengo, tem show de banda de forró, trio pé de serra... Tem muita coisa, é bem diferenciada as atrações.

RC – Como está o CTN hoje? Estamos vendo várias reformas... Para quê todas essas mudanças?
MC – Mas do que o nordestino, o perfil do público brasileiro mudou, o ser humano em geral vem mudando. As pessoas estão ficando mais críticas, elas não querem mais o elementar, todo mundo quer o melhor. E sempre procura oferecer o melhor, por mais que a cultura nordestina ela seja característica pelo rústico, pelo simples, pelo raiz, eu acho que isso pode ser mostrado de uma forma, não sofisticada, mas bem feita e com elegância, e este que é o propósito do centro. Por isso que a gente está reformando e ampliando os nossos serviços. Inclusive com a rodoviária, a gente está construindo uma rodoviária aqui a preços populares, mas isso ainda não está em andamento. A nossa principal função nesse momento é ampliar os nossos serviços de forma responsável, com qualidade, e que cada vez mais a gente possa atender mais pessoas.

Seu Antonio, um simpático exemplo de determinação


Por Luciana Maryllac

Bairro da extrema zona oeste de São Paulo se orgulha de seu primeiro morador: um nordestino pré-destinado com objetivo de vencer e fazer valer todos os seus direitos

Simpático até no nome e pernambucano nascido em 29 de junho de 1930, o Sr. Antonio Martins dos Santos Filho, se tornou uma figura histórica para a região de Perus, bairro da periferia de São Paulo. Vindo do nordeste em 1951, tornou-se líder comunitário e conta com orgulho sua trajetória em busca de melhorias para o bairro Morro Doce, que graças a sua insistência recebeu visitas de políticos como Jânio Quadros, Paulo Maluf, Celso Pitta, e tantos outros prefeitos da cidade e São Paulo. “Lugar de prefeito é no barro”, respondeu seu Antonio quando o carro da prefeitura atolou numa das vielas. “Maluf era muito brincalhão e diante tanta lama falou ‘mas olha aonde o senhor me trouxe’, foi quando lhe dei esta resposta. Ele me olhou seriamente, e logo sorriu dizendo que eu estava certo”. (Na foto, Seu Antônio e Jânio Quadros)
Dono de muita garra e força de vontade, Seu Antonio, como muitos nordestinos, fugiu da seca e miséria do nordeste. Instalou-se em São Paulo, mas não ficou de mãos atadas. E é com um largo sorriso no rosto que essa figura tão paterna abre o portão de sua residência a qualquer jornalista que chega, “Tenho prazer em divulgar as conquistas do bairro, as pessoas precisam saber”.
Presidente-fundador da Sociedade Amigos Mosuvija, Seu Antonio se mudou para a região em 1965, foi um dos primeiros moradores, na época o bairro era apenas um extenso terreno com plantio de mandioca, feijão e milho. Os proprietários do loteamento eram um casal de japoneses e o Coronel José Gladiador assumia a responsabilidade política do Morro Doce. “É uma região muito afastada. Tinha umas 5 residências contando com a minha. E por uns 8 anos não se construiu nem um barraco de madeira”, relembra.
Por intermédio do cunhado, Antonio e sua esposa compraram, em 1962, o terreno que moram até hoje.  Na época não tinham energia elétrica, saneamento básico, nem transporte: “Vivíamos com um lampião a querosene”.
Junto com o Coronel José Gladiador, Seu Antonio tomou a iniciativa de fundar uma sociedade de amigos do bairro. Com muita dificuldade montaram uma chapa e organizaram uma eleição. Em 1975, nascia a Sociedade Amigos Mosuvija, que significa as iniciais de Morro Doce, Vila Sulina e Vila Jaraguá.
“Eu não sabia muito bem o que fazer, mas era preciso se mobilizar para o bairro crescer. Então comecei a freqüentar as reuniões, conhecer os vereadores, deputados e administradores dos bairros, pois na época ainda não existia as sub-prefeituras”.
Em contato com Jânio Quadros, prefeito de São Paulo na época, Seu Antonio lhe ofereceu um almoço para discutir as melhorias a serem feitas no bairro. Sem hesitar, Jânio assinou os documentos feitos pela Mosuvija e despachou: estava autorizado a pavimentação do bairro. Outro prefeito que se interessou pela região foi Paulo Maluf, também colaborou com a construção das escolas municipais e instalações elétricas.
A luta pela construção de um bairro estava apenas começando. Não tinha um mercado, nem farmácia, absolutamente nada. O transporte coletivo não subia as ladeiras e os moradores eram obrigados a caminharem até a Rodovia Anhanguera para encontrar um ponto de ônibus.
A busca por instalação do saneamento básico durou 5 longos anos. Em 1986 foi construído 5 poços artesianos, Seu Antonio complementa “Fui atrás do assessor da Sabesp até mandarem uma empreiteira para construção do encanamento do bairro. Já tinha uma autorização assinada pelo prefeito, então tinha que fazer cumprir! Nós vivíamos com fossas a base de balde e cordinha, não dava para continuar desse jeito”.
Com muita dedicação e força de vontade, Antonio conseguiu fazer valer seu direito de uma vida mais saudável. Sua história foi feita com garra, nada o fazia desistir. Hoje a região de Perus ainda está em busca de novas ações, mas é importante lembrar o quanto já foi feito. Apelidado como “prefeito” de Morro Doce, Seu Antonio encerra desabafando, “A juventude precisa assumir responsabilidades políticas e arregaçar as mangas para construir um futuro melhor”.

Revista RegiãoCult - Edição nº01 - 10 de Junho de 2010